O manifesto das publicações segmentadas
--
Há dez anos, o autor Umair Haque ( The New Economics of Media) lançou um manifesto endereçado à indústria da informação. O artigo, que reflete sobre a produção de conteúdo para públicos específicos, permanece relevante. Por isso, republico meu texto sobre o tema.
***
Segundo Haque, o século 21 traz uma nova dinâmica social. E o estilo de notícia do século passado não se encaixa nessa sociedade em transição. O futuro aponta para micromídia. A lógica dessas publicações não é simplesmente apresentar os meios tradicionais de comunicação numa nova embalagem. É necessário criar uma nova abordagem para o ato de informar.
Para ele, esse novo tipo de produção e divulgação da informação possui alguns pontos essenciais:
- Ao invés de informação e opinião (algo que a indústria da informação faz), “commentage”. Trata-se de uma irmã mais nova da reportagem, em que o espaço para comentários é um convite para a participação dos leitores. Esse diálogo enriquece o produto final, já que a audiência contribui com novos enfoques, aponta falhas etc;
- Tópicos no lugar de textos que são facilmente esquecidos. Notícias são para informação; tópicos, para o conhecimento. Um tema pode ser tratado numa série de posts, sendo o assunto acompanhado em seus desdobramentos;
- Não se preocupe com o aspecto popular do conteúdo. Isso faz com que muitos jornais ofereçam as mesmas histórias, contadas de forma similar. A micromídia se pauta pelo desenvolvimento de perspectivas, pontos de vistas distintos;
- Tópicos de conversação não atrelados a periodicidades específicas (diário, semanal, mensal etc.). Você acompanha a informação durante o desenrolar dos acontecimentos;
- Jornais perseguem o rigor formal (gramática, títulos e lides certeiros etc.) Na micromídia, há provocação -que pode ser um convite apenas para a mera polêmica, bem verdade-. Isso suscita a reflexão, nos desafia;
- O que importa é o trabalho, não a tecnologia empregada. Blog, redes sociais… Mais relevante é o conceito, e não o aparato tecnológico.
Ademais, Haque aponta quatro modelos para micronichos:
- Sentinela — Patrulha um determinado segmento. Esse jornalismo investigativo identifica mau comportamento, promessas não cumpridas etc.;
- Crônica — Visão pessoal de um colunista. Podem desafiar o status quo, com um ponto de vista bem-humorado;
- Informante — Notícia acompanhada de análise abalizada de algum profissional ligado a uma área específica;
- Pioneirismo — Valoriza as novas ideias, conceitos, ângulos etc.
O conceito de nichos é atraente. A (quando procuramos notícias específicas), e não apenas a (quando a notícia chega até você, mesmo sem buscar por ela), abre novas possibilidades.
Haque defende que antes de pensar um novo modelo para a comercialização da informação, o ideal seria reformular a elaboração das notícias.
Para o autor, o futuro das notícias aponta para os nichos. Isso porque eles possuem um modelo econômico melhor. Não têm de se preocupar, por exemplo, com funcionários, escritórios e custos diversos. A micromídia entrega grandes benefícios a um custo menor. Os leitores tem acesso a mais conteúdo e de forma mais rápida.
O jornalista Michael Massing também escreveu um bom texto sobre o assunto. Fala sobre jornalismo de qualidade -opinativo e investigativo- feito na blogosfera. Esse trabalho amplia, em muitos casos, a cobertura de temas não abordados pela mídia tradicional. “ O poder das instituições jornalísticas está se movendo para o jornalismo individual, com muitos profissionais conseguindo financiamento para a criação e manutenção de seus sites “, diz o texto.
(Vale a pena também conferir Cauda Longa, livro de Chris Anderson, autor influenciado por Haque)